sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Como ser voluntário em parques que trabalham com a preservação de animais selvagens?

Foto: Marilena Cantizani.

A África do Sul recebe turistas de todo o mundo que pagam para ser voluntários em reservas e fazer todo o tipo de serviço comum a esses locais.


Estamos sempre abordando temas relacionados aos animais de estimação, porque esse é realmente o nosso principal foco. Mas tem um assunto que surgiu por meio de conversas sobre viagens de entrevistados que é muito bacana. Na África do Sul são comuns os safáris pelas savanas cujo objetivo passou a ser, aparentemente, muito mais a contemplação e fotografia de animais selvagens do que a caça. Infelizmente isso não é tão verdade assim.

Mas além dos safáris, outra atividade de turismo comum tem sido os projetos voluntários naquele País em parques e reservas que oferecem diferentes tipos de trabalho em prol da preservação das espécies e dos locais que os abrigam. A experiência pode ser muito gratificante e, certamente, inesquecível.

Contudo, é necessário pesquisar bastante antes de se aventurar, pois existem locais onde os animais aparentemente são muito bem tratados, mas por trás de toda a beleza e de todo o trabalho, estão pessoas que mantém animais dopados, que estimulam a procriação com fins meramente comercias e outras coisas que uma das nossas entrevistadas vai nos contar. Tudo para garantir o lucro que a visita dos bem intencionados amantes dos animais oferecem durante todo o ano.

Primeiro vamos conversar com Vanessa Norcia Serrão,  paulista, residente no Rio de Janeiro. A Vanessa foi uma das primeiras entrevistadas do Cãopetente. Mas com o bate-papo, descobrimos uma infinidade de assuntos voltados para o mundo que amamos, dos animais. Hoje vamos contar sua experiência durante a viagem que fez à África do Sul para ser voluntária no Seaview Predador Park.
  
 



Cãopetente – Vanessa, conte-nos sobre como lhe ocorreu a ideia de viajar à África para trabalhar voluntariamente com animais selvagens.

Vanessa Serrão - Em 1998 fui à África do Sul como turista e tomei conhecimento do trabalho voluntário. Durante anos planejei participar de um projeto desses, até que em 2011 resolvi ser voluntária no Seaview Predador Park. Na África do Sul é muito comum o voluntariado na vida selvagem e existe em diversos parques com vários animais.





Cãopetente – Como era sua rotina no Parque?

Vanessa Serrão -  Tinha uma rotina bem puxada. Para citar um exemplo, os tigres de um mês precisavam ser alimentados muito cedo, então eu praticamente madrugava para dar mamadeira a eles. E não era só a parte boa de cuidar dos animais. Eu era responsável por recolher as fezes dos sete leões jovens, além de cuidados básicos como alimentação, higiene e lazer dos leões, tigres e demais bichos envolvidos no projeto de proteção à vida selvagem, além da interação com o público visitante, manutenção do local de trabalho e das trilhas, observação e estudo do comportamento dos animais. No entanto, havia uma escala, pois tinha voluntários da Inglaterra, Alemanha, Arábia Saudita, França e da própria África do Sul. Lá havia, além dos leões e tigres, linces, gambá e suricato. A matriarca se chamava Fat Mama.





Cãopetente – Onde ficam hospedados?

Vanessa Serrão -  Nós ficávamos dentro da reserva, e o dormitório dos voluntários ficava próximo ao local onde vivem os leões adultos, então dormíamos ao som do rugido deles! Uma experiência que jamais esquecerei! Como parte desse trabalho, visitamos uma creche na região e levamos doações.

Cãopetente – Existe um período mínimo para realização dessa atividade?

Vanessa Serrão -  O mínimo para realizar um trabalho voluntário lá é de 15 dias, mas no site www.volunteerabroad.com há os mais variados tipos de voluntariados em quase todos os locais do mundo.

Cãopetente – Tem vontade de voltar, Vanessa?

Vanessa Serrão - Tenho muita vontade de voltar e participar de um projeto com elefantes em outra reserva, mas confesso que estou tão envolvida com a causa animal por aqui, que dificilmente realizarei este projeto.

 

A Vanessa também atua como protetora de animais no Rio de Janeiro e pratica equitação. Mas essas histórias a gente conta depois.

Trabalho pesado, experiência inesquecível e um alerta importante



Marilena Cantizani, como foi dito acima, já faz parte da nossa matilha há algum tempo. Nós a entrevistamos por causa do trabalho que desenvolve na ResGatinhos, em Campinas. O nome já diz tudo, não é mesmo? Se ainda não leram sua entrevista e a de Matilda e Maria Mienta, cliquem nos links abaixo por que vale muito à pena. http://caopetente.blogspot.com.br/2013/10/protetores-de-animais.html e http://caopetente.blogspot.com.br/2013/11/matildae-maria-mienta.html.

Na sua viagem à África do Sul, ela deixou os pequenos gatinhos para cuidar de outros bem maiores. Marilena viajou em 2011 e explicou que muitas das informações passadas por ela podem estar desatualizadas, porque o parque para onde foi está em outro lugar. Trata-se do Kingdom of the White Lion. No fim das entrevistas, colocamos alguns links para os interessados pesquisarem. Mas nosso amigo Google nos dá incontáveis resultados.

 



Dentre as mudanças que Marilena cita é que o Parque ainda se mantém em uma área próxima de Johannesburg, no entanto num local ainda maior “e adjacente a um grande parque de preservação ambiental/animal, com o qual também trabalham.  Inclusive os voluntários agora têm a oportunidade de trabalhar também com os Big Five - leões, búfalos, rinocerontes, elefantes e leopardos - desse parque, além dos animais do Kingdom.”

 




Cãopetente – Conte-nos como foi essa experiência e porque quis ser voluntária em um Parque que abriga animais selvagens.

Marilena Cantizani - Fui para o Kingdom of the White Lion, a cerca de uma hora de Johannesburg, África do Sul. Viajei em outubro de 2011, e fiquei duas semanas no santuário. Tudo começou em 2009, quando assisti no YouTube um vídeo sobre um homem e seus leões: Kevin Richardson. Digitei o nome dele no Google, buscando mais informações, e descobri o site do Kingdom (http://www.lionwhisperer.co.za). Eles estavam começando com o programa de voluntários, e fiquei animadíssima! Sempre assistia programas no Animal Planet e via esse pessoal trabalhando em reservas e santuários, e morria de inveja, hehe. Prometi a mim mesma que iria, mas ainda levou um bom tempo para conseguir me organizar, tanto profissional quanto financeiramente.

No início de 2011 entrei em contato com eles (info@lionwhisperer.co.za) para obter mais informações sobre o que era necessário para me tornar uma voluntária. Quem me respondeu foi Mandy, a esposa do Kevin. Ela me passou os formulários para preencher, os valores, dicas de roupas a levar, vacinas a tomar (febre amarela, antitetânica, hepatite), um livreto com informações sobre a África do Sul e a região, enfim, todas as dúvidas foram tiradas por ela. Brasileiros não precisam de visto para a África do Sul.






Cãopetente – Qual o custo de uma viagem como essa? Nos dê os caminhos.

Marilena Cantizani  - À época, optei por fazer o pagamento direto para eles e foi dividia em duas vezes no cartão de crédito), apesar de haver outras opções. Pelas duas semanas paguei cerca de 860 euros. Esse valor é pelo programa de voluntariado, e inclui acomodação e traslado de e para o aeroporto (a cotação do Euro hoje, 21/02/14, está R$ 3,23). A alimentação é por nossa conta, eles nos levam ao supermercado uma vez por semana para comprar mantimentos e preparamos nossas próprias refeições no alojamento. Gasta-se entre ZAR500-800 (US$50-70) em mantimentos por semana. Passeios extras também não estão incluídos. A passagem aérea, vôo direto São Paulo –Johannesburg, saiu na época US$800,00 pela South African Airways. São oito horas de voo. Gostei muito da linha aérea. O pessoal do Kingdom está te esperando no aeroporto quando você chega.


  Cãopetente – Como funcionam as coisas por lá?

Marilena Cantizani  - Na época em que fui eles ofereciam voluntariado de duas ou quatro semanas. Hoje é mais flexível, oferecem desde uma semana até dois meses ou mais. Não havia limite de idade. Mas sei que a maioria dos programas de voluntariado tem um limite, geralmente 40 anos. Os voluntários vêm de todos os cantos do mundo, e o inglês é a língua oficial. Sem ele fica difícil se comunicar e entender o que é preciso ser feito. Na época em que fui o número de voluntários  era limitado a oito pessoas, devido à quantidade de camas disponíveis no alojamento. Uma casa linda com dois quartos, três banheiros, sala e cozinha. Há uma máquina de lavar roupa, e uma pessoa do santuário faz uma faxina geral, uma vez por semana. Homens e mulheres dividem esse espaço, mas quando fui éramos sete mulheres. Eles recebem voluntários o ano inteiro, mas não recomendo nem o inverno (muito gelado) nem o verão (muito quente e muita chuva). Em outubro, quando fui, é primavera. Nesta estação tínhamos que usar um agasalho logo cedinho e no final do dia, porque a temperatura caía bastante. Mas na segunda semana o calor chegou pra valer. Teve dia que atingiu os 40ºC. Tive muita sorte e não peguei nenhum dia de chuva.







Cãopetente – Como é o Kingdom?

Marilena Cantizani  - O Kingdom abriga leões, hienas e leopardos negros - estes em menor número devido ao custo de se construir cercados apropriados para eles, que como gatos escalam qualquer coisa. São mantidos separados em cercados enormes, com aproximadamente 10ha (100.000m2), e há uma área central com cerca de 25ha onde os animais são acomodados em modo de revezamento a cada duas semanas. Isso permite que os animais mudem de ambiente, percorram áreas maiores, e evita que fiquem entediados. A maioria dos animais é adulta, de vez em quando há filhotes. Eu tive sorte, pois quando fui eles tinham dois filhotes de hiena e dois de leopardo.

Mas o objetivo do santuário não é a procriação, pelo contrário, eles lutam contra a procriação em massa de filhotes de leões que hoje é feita na África do Sul para fins comerciais, tanto de turistas como dos próprios voluntários, que estão se tornando uma indústria em si. Depois que crescem normalmente acabam se tornando presas em 'canned lion hunting', uma prática horrível em que o leão é criado como se fosse gado, e depois de adulto é solto em uma área limitada para que 'humanos' possam caçá-los, pagando fortunas para isso. Os leões do Kingdom são ou castrados ou recebem injeção anticoncepcional.







Cãopetente – Como é o trabalho dos voluntários?

Marilena Cantizani - Os voluntários podem interagir e cuidar dos filhotes, mas não podem interagir com os animais adultos. Eles não são 'mansinhos', e somente Kevin e alguns dos funcionários fixos do santuário conseguem entrar nos cercados. O trabalho começa às 8h e vai até as 17h, oficialmente. Mas é comum ter que ficar mais tempo. Há intervalo de uma hora para o almoço. O trabalho braçal. O começo do dia é o mais gostoso, pois é quando alimentamos os filhotes. Como eu disse, tínhamos dois filhotes de hienas, que são bem mais tímidas, e os filhotes de leopardo, que são gatos tamanho gigante, e tão brincalhões e louquinhos quanto, hehe.

Temos que preparar e dar as mamadeiras, e eles também já estavam comendo pedacinhos de carne. Limpamos o cercado, recolhemos fezes, colocamos água fresca, brincamos com eles, levamos muitos arranhões, mas é demais! Os filhotes já tinham cinco meses, e novinhos assim já eram enormes, então precisamos tomar cuidado mesmo sendo filhotes, porque se distrairmos eles podem machucar mesmo sem querer. Eles querem brincar e não têm noção da força que já tem. Depois disso, cada dia tem uma tarefa, varia sempre e depende da necessidade do momento: percorrer as trilhas procurando por armadilhas ilegais, cortar e recolher mato seco pra fazer queimada, cavar e juntar terra para cobrir buracos na estrada, fazer limpeza das instalações e dos cercados dos animais, cortar carne em pedacinhos para os filhotes, alimentar os animais adultos que normalmente são alimentados duas vezes por semana. Aí, no dia seguinte temos que limpar e lavar o lugar onde eles comem. No final do dia, alimentar os filhotes novamente. É exaustivo, todo mundo cai na cama super cedo, hehe. O trabalho no sábado é opcional, mas todo mundo sempre trabalha. E o domingo é folga, daí podemos ficar de bobeira ou fazer algum passeio turístico. Nós fomos passar o dia em um hotel onde é possível fazer cavalgadas, alimentar elefantes, ver zebras, hipopótamos, etc.


Cãopetente – Há algo que tenha sido mais complicado de ver ou de fazer?

Marilena Cantizani - Tive que engolir seco muitas vezes, e segurar as lágrimas. Os animais são alimentados, na maior parte das vezes, com carne de cavalo. Normalmente animais velhos, doentes, ou que quebraram uma pata e foram sacrificados, e que são doados para o santuário. E também com frangos e pintinhos. Para quem é vegetariano foi difícil, principalmente ver centenas e centenas de pintinhos mortos (descarte da indústria, que não se interessa por pintinhos machos - não botam ovos - e os matam em câmaras de gás), e depois ter que manusear aquela carne para oferecê-la como alimento aos animais. A pior parte do dia era ter que entrar no frigorífero, nunca vou esquecer do cheiro horrível que era lá dentro.






Cãopetente – E quanto às outras pessoas voluntárias? Foi bacana a convivência?

Marilena Cantizani - Tive muita sorte com minhas companheiras de voluntariado. Eram pessoas muito bacanas e não houve qualquer problema de convivência. Estavam presentes Inglaterra, França, Alemanha, Suíça e Hungria, e eu do Brasil. Para mim foi um privilégio poder conviver com pessoas de lugares e culturas tão diferentes, e todas com o mesmo amor pelos animais. Esse mesmo amor pude ver em todos que trabalham de modo permanente no santuário. É um trabalho difícil, por vezes perigoso, mas eles estão sempre sorrindo e de bom humor, e tem uma enorme paciência em ensinar os voluntários o que precisa ser feito. Às vezes eu tinha a impressão que a gente mais atrapalhava do que ajudava, quer dizer, o tempo que eles levavam explicando, ou andando mais devagar para que a gente pudesse acompanhá-los, eles fariam a tarefa na metade do tempo!

Foram as duas semanas mais incríveis e intensas da minha vida, e eu com certeza adoraria ser voluntária novamente, estou pesquisando outros lugares para onde possa ir.







Cãopetente – Você fez um alerta sobre a utilização de animais para fins comerciais e de caça. Qual o alerta que pode nos dar sobre isso?

Marilena Cantizani - como eu disse acima, o voluntariado está se tornando uma indústriai. Alguns lugares estimulam a procriação para que sempre haja bebês para os voluntários cuidarem. Também fiquei sabendo sobre locais em que os bebês são separados das mães com poucos dias, para que acostumem com humanos. E até mesmo locais que mantêm os animais ligeiramente dopados para que seu manejo seja fácil. Então é preciso tomar muito cuidado e fazer uma pesquisa profunda antes de se voluntariar em qualquer lugar. É interessante entrar em contato com pessoas que já foram voluntárias lá e podem dar um relato real de como a coisa funciona.

É maravilhoso cuidar dos bebês e poder interagir com eles, mas quando me inscrevi no programa eu sabia que talvez não houvesse bebês para cuidar, foi realmente uma questão de sorte encontrar os quatro filhotes. É importante lembrar que o objetivo do voluntário é ajudar na preservação e bem estar de espécies que estão sofrendo com o domínio e destruição dos homens, e que não estão ali para entretenimento.


Alguns links relacionados ao assunto

http://www.lion-park.com/

http://www.statravel.com.au/tours-and-treks/Africa/Kingdom-of-the-White-Lion-Experience--1-STA_3x2rj

http://www.seaviewpredatorpark.com/

http://country.southafrica.net/sat/content/pt/br/what-to-do/the-great-outdoors/wildlife-and-safari/projetos-voluntarios-para-cuidar-da-vida-selvagem/

https://www.facebook.com/lionpark?ref=ts&fref=ts

Onde está o Zeus???

Vocês devem estar se perguntando: cadê o Zeus? Ele nem apareceu na introdução... É que quando ele viu as fotos dos "bichinhos", resolveu ir tirar um cochilo. Ou fingir que estava tirando um cochilo. E será por que ele colocou a bola ao seu lado? rsrs. Sei não. Acho que o cachorrão ficou mesmo foi apavorado!!!! E sabem do que mais? Tô achando que rolou um certo ciúme de tantas fotos lindas... Zeus, meu filhotão, eles são lindos, mas você é que é meu verdadeiro amor!!!


Até mais ver!

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