sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cachorro maneiro, pessoas maneiras, carro maneiro...

Viagens Maneiras!



O problema de contar uma história como essa é o desejo de falar sobre tudo. Eu nem sou prolixa e nem gosto de escrever... Mas isso não faz o menor sentido, já que quem quiser saber além do que essa entrevista diz, é só assistir ao Viagens Maneiras no TLC Discovery toda sexta-feira às 20 horas. Perdeu esse? Reprise a partir de uma da madruga. Perdeu também? No sábado liga a tevê às 10 horas. Ou então espere chegar a próxima sexta-feira para rever o programa anterior às 15 e às 15h30. São sempre dois episódios. Conclusão: não tem desculpa para não assistir.

Mais uma dica. Para aqueles que querem ter acesso a cada detalhe da viagem é só entrar no blog. São 91 diários de bordo que, na minha opinião, deveriam virar um livro. Muita cultura, curiosidade e fotos incríveis. Além dos vídeos. Eu ‘viajei’ lendo as histórias dos três aventureiros. E com uma invejinha da boa eu fiquei imaginando: e o que eles não escreveram?

Mas deixemos de papo-furado e vamos à entrevista.

Quem conversou com o Cãopetente foi Gustavo Vivacqua, administrador de empresas e idealizador dessa maravilha de viagem com quatro personagens. Ele, sua namorada Ana Machado, psicóloga; o Tapa, um lindo labrador, que é a figura que busca o recorde de cão mais viajado do mundo; e o Farofamóvel, veículo muito bem bolado para a viagem, cheio de soluções e apetrechos para dar conforto aos aventureiros. Inclusive, essencial, já que com o Farofamóvel foram percorridos 129.111 quilômetros, em 746 dias de viagem. Um pouquinho mais de dois anos.

Viagens Maneiras então...


Rodrigo e Tapa curtindo o maior visual, na Turquia.

Cãopetente - Como essa ideia surgiu?

Gustavo Vivacqua -  Na verdade a volta ao mundo é um plano que tenho há mais de 20 anos. Sempre imaginei que fosse ser de barco e não de carro como foi.  Deixar o cachorro para trás não ia rolar, então ele foi junto, como sempre.

Cãopetente - Você viajou com recursos próprios? Se sim, como se programou?

Gustavo Vivacqua - Sim viajei com recursos próprios. Comecei a me programar para partir no auge da crise de 2008. Alem da crise econômica havia uma especulação de epidemia mundial de gripe H1N1. As previsões eram sombrias na época da partida. Ligamos o dane-se e partimos.

Cãopetente - Obteve apoio ou patrocínio para a viagem ou para adaptação do veículo?

Gustavo Vivacqua  - Nenhum apoio. Depois de uma busca, ofereceram alguns apoios irrisórios que eu dispensei. Esses apoios não fariam a aventura acontecer e acho tolice passar essa falsa imagem. Muita gente tem a ilusão que colando uns plásticos no carro e uns logos no blog a viagem vai se pagar. A realidade, infelizmente, não é essa. 

Cãopetente - Foram dois anos de viagem com saída em julho de 2009. Todo o roteiro já estava definido quando partiram?

Gustavo Vivacqua  -  Tínhamos uma ideia do que fazer, mas é impossível acertar na mosca um futuro de dois anos. Fizemos tudo diferente do planejado e tivemos muita sorte de concluir a jornada por uma rota ainda mais fantástica que o traçado original.

O retorno ao Brasil depois de dois anos viajando pelo mundo.
Cãopetente - Quando idealizaram o projeto tinham o blog, não é isso? O programa televisivo também já fazia parte do planejamento ou ocorreu depois do início da viagem?

Gustavo Vivacqua  - ViagensManeiras.com existe desde 1998. Na verdade já foi canal de viagens de uma grande operadora de celular, além de alguns provedores de internet e de telefonia fixa. O blog da viagem fica dentro do site no endereço www.viagensmaneiras.com/pelomundo, e foi criado apenas para registrar o diário de bordo dessa volta ao mundo. A ideia era fazer um documentário e um guia dos países que passávamos. Mas nunca planejamos ter um programa de tevê, ainda mais em um canal como o TLC Discovery que é o que mais gostamos. O que aconteceu superou muito as nossas expectativas.

Tem que ter muita vontade e disposição. Olha só a papelada!
Cãopetente - Vocês tinham o início da viagem programada para abril de 2009 e precisaram aguardar três meses em função de documento. A burocracia os impediu de sair no tempo previsto. Quais foram as maiores dificuldades que tiveram em relação à emissão de documentos?

Gustavo Vivacqua  - Para entrar na Europa e nos Estados Unidos é preciso implantar um chip no cachorro e fazer um exame de sangue com seis meses de antecedência. Isso atrasou um pouco.

Cãopetente - Todas as imagens foram produzidas por vocês, certo? Pediam ajuda ou usaram apenas o tripé como recurso?

Gustavo Vivacqua  - Todas foram feitas pelo nosso tripé. (hehehe)

 Cãopetente - Coisas do dia a dia. Quando e como lavavam suas roupas? O que deixavam estocado no Farofamovel para se alimentarem? Levaram medicamentos o suficiente para a viagem?

Gustavo Vivacqua  - Lavamos as roupas pelas lavadeiras (que também roubavam parte de nossas roupas) e lavanderias pelo caminho. Tinha sempre um rango em lata e uns macarrões no armário, além de algumas comidas perecíveis na geladeira do carro. Não dá para comer em restaurante todo dia, por isso a comida "default" era a de supermercado mesmo. Temos microondas e fogão elétrico no carro para viabilizar isso. Tínhamos remédios também.

Cãopetente - Tiveram algum problema mais sério de saúde pelo caminho?

Gustavo Vivacqua - Eu tive duas úlceras no esôfago na Colômbia e um princípio de febre reumática nos Estados Unidos, que me deixou com uma artrite brava por um ano e meio da viagem. A Ana quase morreu de intoxicação alimentar no Marrocos. O Tapa quase perdeu o saco em uma surra que levou de um cachorro na Turquia.

Cãopetente - O que mais gostaram e para onde não voltariam? Por quê?

Gustavo Vivacqua - Gostamos muito do Deserto de Wadi Rum na Jordânia. Acampar no meio do nada, longe de tudo na Peninsula Arabica, foi mágico. É um céu que nunca vou esquecer. No Iran passamos um susto danado com as autoridades locais. Deu um medo danado.

Cãopetente - Vocês passaram por alguns ‘perrengues’, inclusive depois de 300 quilômetros apenas do início da viagem quando o diesel se misturou com água... Isso tudo com um cachorro ‘cheio de gás’ a bordo. Além de paciência e bom humor, o que você diria que não pode faltar numa viagem dessas?

Gustavo Vivaqua  - Acho que o otimismo. Os problemas vão aparecer inevitavelmente. Mas mesmo ficando em casa parado os problemas aparecem, não é mesmo?


E o Tapa? O cão mais viajado do mundo...

Tapa-buraco lindo!
Cãopetente - Por que esse nome: Tapa?

Gustavo Vivacqua - Tapa-Buraco. Ele é um consolo, um tapa-buraco. Um buraco que meu primeiro cachorro, o Haxi, deixou. Com o Haxi viajei todo Brasil por mais de 10 anos. Foi com o Haxi que o Viagens Maneiras começou.

Cãopetente - Qual a idade do Tapa quando começaram a viagem?

Gustavo Vivaqua - Acho que uns quatro anos, mais ou menos.

Cãopetente - Como pensou o veículo para acomodar o labrador?

Gustavo Vivaqua  -Pensei mais em torná-lo um mini motor home. Se ficasse bom para a gente, ficaria bom para o Tapa também.

Cãopetente - Quais foram os procedimentos legais que tiveram de ser cumpridos para viajar com um cão?

Gustavo Vivaqua  - Cartela de vacinação em dia, chip no cachorro, exame de sangue para entrar na Europa. Se informar bem quais as exigências do pais a ser visitado.

Cãopetente - E quando vocês precisavam dormir no Farofa. A cama acomodava bem os três?

Gustavo Vivaqua  - Ela é pequena até para mim e para a Ana. O Tapa dorme no corredor entre a cama e a mesa. Deu tranquilo, apesar de apertado. Ele adora dormir lá.

Cãopetente - Ração, medicamentos, vacinas para o cão. Vocês levaram um estoque inicial?

Gustavo Vivaqua  - Nada, a gente se virou no caminho. 

Cãopetente - Quanto aos banhos no Tapa? Afinal, mesmo que uma vez por mês, imagino que o procedimento era não só necessário, como inevitável, já que os três dividiam o mesmo espaço.

Gustavo Vivaqua  - Tapa tomou banho de mar,  lagos e rios quase todos os dias... hehehe

Cãopetente - Várias visitas ao veterinário durante o percurso, principalmente para obter liberações para prosseguir viagem. Mas além das questões burocráticas houve a necessidade de levá-lo ao veterinário por problemas de saúde? Se sim, conte o motivo.

Gustavo Vivaqua  - Ele sempre tem que ir ao veterinário antes de sair de um país para receber um documento dizendo que ele está ‘ok’ e que pode seguir para outro país. Fora isso, apenas a surra que levou na Turquia que contei antes.

Esse pequeno cão tomava conta do camping onde estavam
acampados. Na verdade ele quase acabou com a condição
de "macho pra caramba" do Tapa.
Cãopetente - Não foi em todos os lugares que hotéis aceitaram o Tapa como hóspede. Existiram também vários programas que fizeram, que o labrador não podia participar. Em situações assim, onde e como o Tapa ficava? Pois vi que até roubarem o cachorro tentaram logo no início da sua viagem...

Gustavo Vivaqua  - Foi só no começo da viagem mesmo. Um bêbado tentou roubar o Tapa na mão grande na Argentina, mas se ferrou. O Tapa ficava sempre na parte de trás do carro, em uma sombra, com os dois ventiladores ligados, janelas abertas e muita água. Ele não esperava muito tempo não. Foi tranquilo.

Cãopetente - Em muitos países há uma enorme tolerância com animais. Em outros, ao contrário, não admitem animais em quase lugar nenhum. Quais os locais mais fáceis de ir com um cão e quais os mais difíceis ou impossíveis?

Gustavo Vivaqua  - Europa e Estados Unidos é mole. Varios hotéis aceitam cachorro por lá. Os países árabes do Oriente Médio e o Iran não recomendo porque eles odeiam cachorro.

Cãopetente - Além de Coqueta, a labradora do Peru, um amor consentido, o Tapa encontrou muitas cadelinhas no cio?

Olha o bonitão 'botando pra quebrar!' com a Coqueta!

Gustavo Vivaqua  - Ele conheceu uma Golden Retriver na Sibéria e ficou gamadão. Mas não deu tempo de namorar com ela não.
Olha a Malta: amor do Tapa lá da Sibéria


Cãopetente - O Tapa sumiu algumas vezes. Cite os locais e conte aquele que foi mais difícil encontrá-lo.

Gustavo Vivaqua   - O pior caso foi em Banos, no Equador. Ele desapareceu por mais de quatro horas. Foi desesperador. Perdemos o Tapa na fronteira do Peru com o Chile também. Depois disso ele começou a ficar amarrado nas árvores e postes igual a um cabrito. Só assim para não perdermos o Tapa.

Cãopetente - Em alguns lugares vocês tiveram que embarcar o Tapa para seguir viagem aérea. Houve problemas em algum desses embarques?

Gustavo Vivaqua  - Em Miami perdemos o avião e o cachorro foi sozinho para Nova York, pois nos atrasamos para embarcar . Foi a única vez que deu problema.

Cãopetente - O que foi, do seu ponto de vista, mais divertido para o Tapa e o mais difícil ou estressante para um animal do porte dele e com aquele temperamento esfuziante?

Gustavo Vivaqua  - O Tapa é parceirão e sempre tira uma gargalha da gente. A pior parte era se separar dele no aeroporto e torcer para ele chegar bem do outro lado. Recebê-lo na esteira da bagagem dos aeroportos era muito aliviante e recompensador.

Cãopetente - Depois de dois anos correndo o mundo, como é a rotina de vocês com o Tapa atualmente?

Gustavo Vivaqua  - Normal, como a de todos os donos de cachorro. Acho que a única particularidade é que temos que conviver com os peidos que ele solta... hehehe.

Será que a fama de ‘fedorento’ do Tapa vem dos seus peidos?
Deixa pra lá, não é?

Tem resposta que dá um gostinho de quero mais, não é? Por isso sugiro a vocês que visitem o blog. Eu li tudo. Você começa e não quer parar mais.

Tem algumas histórias e curiosidades que não resisti e vou colocar aqui.

Haxi – Qual é a desse cão? 

O Gustavo também foi entrevistado pelo Portal do Dog e falou um pouco mais sobre ele. Reproduzo essa parte da sua entrevista, abaixo.

“Comecei a viajar com o Haxi, meu primeiro cachorro que era uma labradoberman no Natal de 1994. Ele tinha apenas 14 dias de vida ainda. Quando abriu os olhos pela primeira vez,  ele já estava bem longe de casa. O Haxi era um soldado, um cachorro sério, fiel e parceirão. Aquele cachorro não me dava trabalho nenhum. Ainda tenho muita saudade dele… Depois que ele se foi, veio o Tapa. Um cachorro bem diferente e malucão, que dá muuuito trabalho. Tapa é um cachorro fanfarrão, sacana e peidão.  Com certeza se existisse recall de labrador, o Tapa estaria na série defeituosa. Na série mais defeituosa.”

“Perrengues”

Lembra que foi na Turquia que o Tapa quase ficou sem suas ‘partes’? Em homenagem a esse triste episódio, resolvi fazer uns recortes da viagem por aquelas regiões. Parece que lá a viagem foi bem emocionante para todos.

Fato 1 – Ainda na Turquia Gustavo e Ana foram dar uma voltinha de balão e vejam um trecho do diário de bordo. 


O balão no qual Ana e Gustavo passeavam.
“Quando estávamos a 3000 metros de altura, a Ana percebeu um certo nervosismo do piloto. Tentei tranquilizála achando que o cara estava preocupado com o balão que estava logo abaixo de nós. (...)”.

A notícia boa é que o piloto conseguiu pousar e evitar um acidente. Que sorte, hem!!

Fato 2 – “Nossa primeira incursão no mundo sírio foi numa feirinha, ou souk, como chamam os caras. Mas não deu muito certo não. Os caras deram uma enlouquecida quando viram a Ana sem hijab e aí começou uma gritaria danada na feira inteira. (...)”

“Se o Tapa saísse do carro tinha gente querendo tacar pedra nele, pois os árabes consideram os cachorros pretos os animais mais imundos que existem (é o caso do Tapa, hehehe)...”

Fato 3 - Na sequência: “Fugimos dessa loucura toda e fomos nos esconder no deserto. As Ruínas de Palmyra eram nosso próximo objetivo. Animados com a paz e segurança do lugar, fomos acampar no deserto atrás das iluminadas ruínas. Um lugar lindo! Estava bom demais para ser verdade. De repente, o Tapa começou a latir e um cara saiu do nada do meio do escuro (...)”. 

Nessa parte, vou deixá-los curiosos.

As Ruínas de Palmyra. Um espetáculo
Fato 4 – “Fomos para a cidade... Grande erro. Nossos problemas estavam apenas começando. Estacionamos o carro e, de repente, uma criança com cerca de dois anos viu o Tapa e começou a gritar: Au Au Au Au.”

Para não esticar a história, o fim dessa ‘latição’ infantil foram várias “crianças da redondeza descerem de suas casas com paus e pedras nas mãos para darem uma ‘massagem’ no Tapa”. Tem lógica? Coitadinho do cachorro!!!

E para finalizar essas curiosidades, mais um trecho educativo do diário de bordo e bastante importante para você que se animou a viajar com seu cão.

“Depois de uma imersão de quase seis meses no mundo muçulmano, sendo cinco no Oriente Médio e um no Marrocos, eu não aconselharia ninguém a levar um cachorro para essas bandas. As pessoas são boas, todos são gentis, mas seu cachorro será visto com uma criatura suja, principalmente, se ele for todo preto. Andar com um cachorro por lá é a mesma coisa que passear nas praias do Brasil com um porco na coleira. Os caras vão ter uma mistura de curiosidade com nojo. Em todas as aduanas, os fiscais das fronteiras abriam o carro, faziam cara de "éca" e suspendiam a vistoria. Depois, nos liberavam rapidamente de tanto nojo. Todos perguntavam por que o Tapa era tão preto. Isso não era bom sinal para eles.”

 E o balanço?

129.111 km percorridos; 746 dias viajando; 46 países visitados; 279 cervejas diferentes; 32 idiomas diferentes; 91 diários de bordo; 13 idas ao hospital; 40 idas ao veterinário; nenhum pneu furado; uma extorsão policial; 18 duras policiais; 8 viagens aéreas; 3 viagens de container feitas pelo Farofamóvel; 19 ferry boats; 5 sumiços do Tapa; não sofremos furto ou roubo de dinheiro ou documentos.















Olha aí veterinário salvando "as coisas" do coitado do Tapa. E, não bastando perder a briga para o grandalhão do camping, ainda teve que usar um colar cor de rosa. Nossa solidariedade, Tapa.



Mas olha só como o doutor foi "Cãopetente". O Tapa é papai!!

E para a próxima semana?

Vamos falar um pouco sobre prestadores de serviços no mundo pet. Hoje os animais contam com hotéis bem diferentes daqueles modelos tradicionais, onde ficavam dentro de canis ou gaiolas. Vai sair para trabalhar e não quer deixar seu cão sozinho? É só levar o pet para uma creche. Pois é. Vamos conversar com a veterinária, Ludmila Vieira, proprietária da Creche Maternau, em Belo Horizonte. Um serviço que vai muito além de receber o animalzimho. Confiram!

Até mais ver!!!

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