sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vale tudo para salvar a vida de um animal sob maus-tratos? 


“Se dá para roubar, eu roubo e fim.”





Algumas entrevistas com protetores de animais já foram publicadas no Cãopetente. O ponto em comum que encontramos em todos que se dedicam a essa causa é a obstinação. Alguns vão até às últimas consequências para salvar uma vida. O que pode ser questionável ou controverso para alguns é, para essas pessoas, ponto indiscutível e sem negociação, principalmente quando se deparam com recusas ou burocracias de instituições públicas.

Como a maior parte dos entrevistados do Cãopetente, conheci a Adriana por meio da página de um conhecido no Facebook. Ela anunciava a venda de plaquinhas identificadoras para cães e eu me interessei em comprar uma para o Zeus. Inclusive, porque ela anunciava que o dinheiro da venda era utilizado para os cães que abriga ou que mantém em outros locais. Abri sua página e vi que trabalha como Dog Walker, mas que a atividade de protetora também faz parte da sua rotina. Comprei a plaquinha e, inclusive compartilhei seu anúncio na página do Cãopetente no Facebook.

Adriana Breves do Santos é mais uma pessoa que exerce a atividade de proteção aos animais e que me causou curiosidade em conhecer sua rotina e dividir as informações com vocês. Nossa entrevistada se mostra, tanto na sua página pessoal, quanto na sua entrevista, muito destemida, corajosa, bastante sincera e não escolhe palavras para dizer o que pensa. Perguntei à Adriana se realmente não havia problema em publicar tudo o que declarou e ela não titubeou. Afirmou objetivamente: “pode sim, sem problema algum”.



Da parte do Cãopetente é ótimo poder mostrar de maneira clara e transparente o que as pessoas pensam e como agem. E torcer para que as dificuldades diminuam quanto maiores forem as informações. O fato é que não é nada fácil exercer a atividade de protetor de animais. Essas são pessoas de alma nobre e sentimentos fortes!

Adriana tem 37 anos e suas respostas mostram grande determinação quando se trata de resgatar um cão ou gato, cuidar e colocá-los para adoção. Bem como nas afirmações que mostram que, na sua opinião, a responsabilidade pela vida de todos os abandonados e maltratados animais são de todos e não só daqueles que escolhem exercer no seu dia a dia a função de resgate, acolhimento e doação. Adriana está sempre ao lado de um desses bichinhos, já que trabalha como passeadora de cães. Nasceu em São Paulo e sempre morou no Ipiranga. Ela conta como se tornou uma protetora. “Eu tinha um fotolog. Vi um pedido de ajuda. Uma moça vendia camisetas. O dinheiro das vendas era para comprar os remédios. Fui com meu irmão na casa dessa moça, compramos camisetas e levei algumas doações. Só que história que vi não era dela, mas tinha o email dela... Acabei indo numa feira de adoção onde eu ficava cuidando dos animais. Fui em mais duas ou três feiras. Logo, o grupo se dissociou.“

Adriana e mais duas pessoas que fazem parte da atual formação, então se juntaram e começaram a realizar novas feiras com o mesmo nome do grupo da moça do início da história: União SRD (sem raça definida). “Daí começou: feiras e mais feiras, resgates e adoções. Crescemos e nos organizamos. Criamos um logotipo e demos ênfase ao nome que já existia”, explicou.

 Cãopetente - Há quanto tempo trabalha como Dog Walker ou em português mais claro, passeadora de cães?

Adriana Santos  - Há quatro anos.


Cãopetente – Por que decidiu trabalhar com cães?

Adriana Santos - O convívio com animais acabou levando para esse lado. Sempre via que a profissão podia ser promissora em revistas e na mídia. Também estava desempregada e uma coisa acabou levando a outra.

Cãopetente - Em qual região de São Paulo você atende?

Adriana Santos - Bairro do Ipiranga, Vila Mariana e bairros próximos.

Cãopetente – Fale sobre sua rotina profissional.

Adriana Santos - Os passeios duram em média 30 minutos, são dois clientes avulsos e dois juntos. No começo idealizei um contrato, mas como os clientes foram todos surgindo por meio de indicação, acabaram se tornando amigos. Hoje não tenho contrato. No dia de pagamento, o dinheiro está na minha conta.
Os mesmos clientes acabam optando por mim nos serviços de hotel ou creche, e também na atividade de pet sitter.


Cãopetente – Quantos animais de estimação você possui? Fale sobre eles.

Adriana Santos – São quatorze. Dez são meus e quatro para adoção. São todos umas ‘pestes’... rs.

Cãopetente – Vamos falar sobre a atividade de protetora. Onde abriga os animais que resgata? Possui um lugar específico ou clínicas que lhe apoiam?

Adriana Santos - Quando dá, ficam em casa. Mas a maioria fica em canil ou hotel particular.

Cãopetente - Tem mais pessoas que trabalham com você? 

Adriana Santos - O grupo União SRD é formado por três mulheres.



Cãopetente - Desde quando você decidiu ser protetora de animais?

Adriana Santos  - Quando comecei a ajudar a Ong União SRD e foi acontecendo naturalmente. Há dez anos.

Cãopetente – Lembra-se do primeiro animalzinho que você ajudou e em quais circunstâncias?

Adriana Santos  - Foi um poodle da feira para onde fui como voluntária. Consegui dono pra ele. Só que as protetoras largaram o cão comigo, sem sequer desejar saber se o adotante era ou não bom. Foi para uma amiga de Orkut na época que ficou com o cão muito tempo. Ele morreu há uns dois anos.

Cãopetente - Abriga apenas cães ou possui outros animais?

Adriana Santos  - Somente cães e gatos.



Cãopetente - De que forma os animais chegam até você?

Adriana Santos  - Geralmente são denúncias de maus-tratos. Às vezes passando na rua nós identificamos alguma situação e vamos investigar. As pessoas ligam a semana toda querendo que resgatemos animais que elas encontraram. A resposta é sempre NÃO!!! A não ser que seja um caso especial que por ventura possamos ajudar, mas é muito difícil. Recusamos a maioria. Se eu vejo a situação é meu dever resgatar. Agora se você viu, é dever seu, não meu. Porque o que eu faço, você também pode fazer.

Cãopetente - Qual a maior demanda? Filhotes, animais adultos ou idosos?

Adriana Santos  - Acho que os três estão equiparados. Abandonam caixas cheias de filhotes; os idosos justamente porque ficaram idosos e não querem gastar com algum tratamento; e os adultos porque cresceram ou porque as pessoas são más mesmo.

Cãopetente - Quais são suas maiores dificuldades?

Adriana Santos  - A maior dificuldade hoje é local para os animais e dinheiro para manter com qualidade os já existentes.

Cãopetente - Tem parceiros veterinários?

Adriana Santos  - Sim, temos alguns. Ou não nos cobram a consulta e só os procedimentos, ou vice-versa. Ou ainda nos dão alguma facilidade para pagar. Mas temos que pagar de uma maneira ou de outra. A gratuidade até acontece, mas muito raramente.

Cãopetente - Tem alguma parceria para castrar e medicar os animais que ficam para adoção?

Adriana Santos  - Todos os procedimentos para os cães que vão para o canil, geralmente são feitos por eles. Temos também uma conta e vamos pagando conforme entra o dinheiro. Para aqueles que ficam em hotel, pesquisamos os locais onde os procedimentos fiquem mais em conta.



Cãopetente - Como faz para conseguir rações e medicamentos?

Adriana Santos  - Geralmente com apelos na internet. Alguns tem madrinhas e padrinhos para quem podemos pedir; e nas feiras de adoção fazemos a arrecadação de ração.

Cãopetente - Como planeja as feiras de adoções?

Adriana Santos  - Hoje elas são fixas. Acontece aos sábados, já com datas definidas até o fim do ano. Somente uma delas é em pet shop, que naturalmente é nosso parceiro.

Cãopetente - Além das feiras, quais os canais de divulgação para adoção?

Adriana Santos  - Cem por cento internet. Nosso site, Facebook e mailing de email. Às vezes, alguns sites de adoção de terceiros.



Cãopetente – Tem algum caso que te emocione mais?

Adriana Santos  - São vários, não tem um específico. Já pegamos uma cachorra desfalecida, que ninguém dava nada por ela e hoje está doada e linda. Uma boxer quase morta, com um prato de comida podre e água preta. Ela não andava e hoje também foi doada e está com a saúde ótima. Dois cães idosos em carne viva por causa de sarna. Viviam numa casa com mais 14 animais. Várias ongs foram chamadas para cada uma assumir um animal. Ninguém as queria por serem velhas. Pegamos, tratamos e uma foi doada ano passado. Morreu este ano, mas teve a chance de conhecer uma família. São vários casos no mesmo patamar.

Cãopetente - Alguns cuidados precisam ser tomados ao abordar um cão. Afinal, principalmente aqueles que são maltratados ou nas ruas ou pelos donos, às vezes atacam por medo. Ou mesmo fogem. Como você procede?

Adriana Santos  - Eu ando com comida no carro e na bolsa. Petisco, guia, coleira e cambão. A gente tenta atrair com comida e carinho. Muitos fogem. Corremos atrás e ele some. Aí é entregar para o destino.

Cãopetente - Outro problema que imagino que possa fazer parte da sua rotina é abordar as pessoas que maltratam seus animais e retirá-los delas. Como você age nesses casos?

Adriana Santos – Hoje, com a experiência que tenho, eu roubo, pulo muro, arrombo. Caso nada disso seja possível, a gente tenta enviar uma notificação extrajudicial... Ou recorremos a alguns protetores ‘maiores’ que vão lá ameaçam e tiram o animal. Em último caso acionamos a polícia, devido às burocracias.

Cãopetente - Você tem apoio do setor público para alguns casos? CCZ,s, Polícia Militar, Bombeiros...

Adriana Santos – Não, nenhum. Polícia e Bombeiros dificilmente levam os casos a sério. É raro algum deles ajudar. Sempre botam empecilho para não virem. Por isso, no meu caso, se dá para roubar, eu roubo e fim.

Cãopetente - Depois que consegue um lar para seus animais, há alguma forma de acompanhar se os proprietários estão cuidando de maneira adequada?

Adriana Santos – Sim. O animal só sai das nossas mãos, após assinatura e preenchimento de quatro termos de adoção, cada um cita uma coisa diferente. Pedimos xerox de documentos e o adotante paga uma taxa, que é revertida aos animais que ainda não foram adotados. Depois ligamos, visitamos, pedimos fotos, até acharmos que não seja mais necessário. Alguns a gente nem precisa pedir, estão sempre em contato.



Cãopetente - Existem muitos casos de devolução? Se sim, quais os principais motivos alegados pelas pessoas?

Adriana Santos – Existem. São poucos, mas existem. Pelos motivos mais torpes: gravidez, mudança para apartamento, mudança de cidade - embora tudo isso seja perguntado durante a entrevista de adoção. E ainda alegam que o cão destruiu tudo, que mijou a casa toda... Claro: pegaram, largaram fechado em algum canto e foram trabalhar. Não levam para passear, os animais não gastam energia, aí dizem que ele não se adaptou.

Cãopetente - Atua também como ativista? Vi suas postagens recorrentes no caso do Instituto Royal e percebi que acompanha intensamente. Dê sua opinião sobre esse caso.

Adriana Santos - No início da carreira eu atuava mais. Ia às manifestações, mas hoje em dia não mais. Virou meio que uma disputa de egos, qual protetora pode mais. Então divulgo via 'net' pra que a informação chegue a todos. Nesse caso da Royal quis muito ir. Mas foi muito em cima da hora, nem tinha como sair na madrugada e migrar pra lá... Isso é mais pra ativista 100% mesmo. Se eu não precisasse trabalhar no dia seguinte, iria. Eu tinha dois carros disponíveis na porta e poderia encher de cachorro (rs). Mas sou a favor das manifestações. Só assim conseguimos fazer chegar nosso recado às pessoas.

Essa é a Adriana, protetora de animais. Ao Cãopetente, não cabe nenhum tipo de julgamento sobre uma ou outra decisão que leve ao salvamento de animais que estão abandonados ou sob maus-tratos. Como alguém que adora os animais e abomina todos os tipos de maus-tratos, tenho apenas duas coisas muito simples a dizer: a primeira é que minha expectativa maior é que qualquer entrevista leve às reflexões e ao conhecimento. Quem sabe, numa postura bastante otimista, que leve à mudanças positivas de comportamento em relação ao trato dos animais. A outra coisa a ser dita é que me sinto com a obrigação de agradecer a todas as pessoas que, assim como a Adriana, são corajosas, obstinadas e não medem esforços nem palavras para que alguns animais sejam tratados com a dignidade e o respeito que todos deveriam ter naturalmente.

E para a próxima?

Com muitos entrevistados eu pergunto se há animais cujas necessidades de adoção sejam especiais e a dificuldade se mostre maior que na maioria dos casos. Sempre levamos para o Pet a Pet com o Zeus, como sabem todos que nos acompanham. Eu ia fazer diferente dessa vez e colocar a entrevista do Zeus junto com esta, mas mudamos de ideia, não é Zeus? Em breve vamos divulgar o Pet a Pet do Zeus com o Bob e a Bia e suas AUnotações e considerações a respeito deste caso. Antecipo que esses dois só podem ser adotados juntos.

Até mais ver!

2 comentários:

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