sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Quando me apaixonei por cães.



Para quem ama os animais como eu e você que está lendo esse texto agora, não dá nem para imaginar olhar para esses bichinhos sem vontade de tocar, acarinhar, brincar, cuidar. Impensável para nós uma vida sem um mínimo de proximidade com um pet.

Essa entrevista tem o objetivo de mostrar que as pessoas que não gostam de bichos podem mudar de opinião. A entrevistada de hoje é uma amiga de infância. Não foi à toa que a convidei para contar sua história. Somos de Belo Horizonte e tomamos caminhos bem diferentes, mas a amizade permanece e isso já tem um pouquinho mais de 30 anos. Estou contando isso para que entendam que posso afirmar que a Márcia Okabayashi não era muito chegada a animais. Enquanto eu, desde criança, os tenho como minha grande paixão. Esse era um ponto que não tínhamos em comum. Mas a história da vida dela mudou essa forma de pensar. E hoje, pasmem! Ela tem mais contato com cães do que eu já tive, acredito, durante toda a minha vida. Bem, como a ‘esperança é a última que morre’, segue o desejo de que histórias como essa se tornem uma rotina e sejam cada vez mais conhecidas. Só assim o mundo vai finalmente se tornar um lugar melhor para os animais.

Essa é a historinha de hoje para o Zeus e para vocês. 

A mineira Márcia Okabayashi, depois de passar alguns anos morando em Vitória, no Espírito Santo, mudou-se para os Estados Unidos. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Sua intenção sempre foi trabalhar com pessoas. Bichos, nem de longe. Partiu para a terra do Tio Sam em 1996 e ‘norte-americanizou-se’. Sua vida realmente mudou. Hoje é oficialmente uma cidadã americana, casada, com direito a mais um sobrenome, Martin; e com filhos (humano e canino). Atualmente mora em Durham, na Carolina do Norte. 

Mas onde entram os cachorros nessa história?



Cãopetente – É verdade que antes de ir para os Estados Unidos e de ter a experiência que vai nos contar, não gostava muito de animais?

Márcia Martin - É verdade. Quando eu morava no Brasil, na maioria dos casos, os cachorros eram considerados apenas cães de guarda. Tinham essa função: guardar a casa. Geralmente eles não eram domesticados, ficavam do lado de fora, algumas vezes até com mau cheiro, ou mal cuidados. Não, eu não era fã de animais.

Cãopetente – Conte-nos um pouco como foi sua chegada aos Estados Unidos e seu primeiro contato próximo com os cães.

Márcia Martin - Cheguei aqui nos Estados Unidos em 1996, com 26 anos de idade. Não sabia quase nada em inglês – dog, cat, contar de um até 10. Fui trabalhar como voluntária no Animal Shelter (abrigo de animais), na cidade de Greensboro. Fica a uma hora de onde moro. Não sabia falar com as pessoas. Então me mandaram ficar com os cachorros (eles não falam Inglês também!!!!). Adorava os cães, mas não gostava quando ficavam pulando em mim, latindo o tempo todo e puxando a coleira pra passear. Resolvi ler alguns livros sobre comportamento de cachorro (conseguia ler em inglês), e ai descobri que tudo tinha a ver com o que eu havia aprendido na faculdade: psicologia comportamental.

Cãopetente -  Então, o que aprendeu no seu curso de psicologia lhe ajudou a trabalhar com os cães?

Márcia Martin – Sim. Daí foi tudo muito fácil! Cachorros que estavam no abrigo por vários meses, eu conseguia treinar em uma semana e, na semana seguinte, eles eram adotados. Nunca me senti tão realizada. Passei a ir a várias palestras de treinadores famosos aqui nos Estados Unidos e comecei a treinar cachorros nas casas dos proprietários. Aprendi tudo lendo livros especializados e assistindo a palestras. Não fiz nenhum curso. Muitas pessoas me dizem que tenho o dom para isso. Quando comecei a trabalhar no abrigo de animais, adotei minha primeira cachorra: a Bella. Ela era uma mistura de Border Collie com “Deus sabe o quê”. A Bella foi também uma grande motivação para me profissionalizar como adestradora.

Bella, primeira cadela adotada por Márcia.

Cãopetente – Por que ela te motivou?

Márcia Martin – Quando eu adotei a Bella, a levei para ser treinada. Fui convidada a sair da aula porque ela estava se comportando mal, latindo muito e incomodando os outros cães. Resolvi treiná-la por conta própria.

Cãopetente - O que fazia como voluntária no abrigo de animais?

Márcia Martin – Eu ia lá para andar com os cães, dar carinho, escová-los. Tirá-los um pouco do canil. Então comecei a treiná-los para terem boas maneiras. Parar de pular, não latir compulsivamente, andar na coleira sem puxar e outras coisas. Entrei como voluntária, mas depois quando recebi minha permissão de trabalho, me ofereceram o emprego e comecei a avaliar o comportamento dos cães e treiná-los.

Cãopetente - Depois da Bella, quantos animais você já adotou?

Márcia Martin – Depois da Bella, adotei a Star um ano depois. Elas viveram até os 14 anos. E tinha o Champion também. Depois que morreram, fiquei quatro meses sem um animal de estimação. Ano passado (2012), adotei a Daisy. Ela tinha cinco anos.

Cãopetente - Depois de quantos anos convivendo com animais você teve seu filho, o Wesley?

Márcia Martin – Adotei a Bella em 1998. Meu filho nasceu em 2007.

Cãopetente -  Então não deixou de ter cães por causa dele?

Wesley, um aprendiz de adestrador
Márcia Martin – Não deixei de ter cachorro. Quando o Wesley nasceu, a gente tinha três cães: Bella, Star e Champion (os três com 10 anos de idade). Quatro anos depois perdi todos os três - velhice e doença. Não consegui ficar muito tempo sem cachorro. Adotei a Daisy quando o Wesley começou a frequentar o jardim de infância. Meu filho já nasceu com cachorros dentro de casa.

Cãopetente – Vocês incluem a Daisy nos seus programas?

Márcia Martin - Levamos a Daisy para todos os lugares com a gente. Quando viajamos, só ficamos em hotéis que aceitam cachorro. Até compramos um apartamento na praia com a certeza de que a Daisy seria aceita no condomínio. Se o local não permitisse animais, não estaria mais na nossa lista.

Cãopetente – Onde mora, você observa muita diferença no tratamento e no convívio entre pessoas e animais em relação ao Brasil?

Márcia Martin - Tem 17 anos que moro nos Estados Unidos. Como disse antes, quando eu morava no Brasil a cultura era outra. Os cachorros eram vistos e tratados como cães de guarda, sempre do lado de fora de casa. Aqui, mesmo naquela época, os cães já eram tratados como verdadeiros animais de estimação, super bem cuidados, vivendo dentro de casa com as famílias.

Bella, Star e Champion
Cãopetente – Antes, você era uma pessoa que não tinha nenhuma afinidade com animais. Como descreve sua vida agora, principalmente em relação aos cães?

Márcia Martin -  Para mim ter um animal é como ter um filho. Já me considerava mãe da Bella e da Star, muito antes do meu filho nascer. A felicidade deles quando chego em casa, o companheirismo, não tem nada igual. Ter um animal é ter também senso de responsabilidade. O cão, além de casa e comida, também precisa ser treinado e socializado. Todos os dias, faça chuva ou sol, é preciso levá-los para passear, ensinar onde fazer suas necessidades, essas coisas. Os cães não se importam com bens materiais. Para eles, o dono é a  pessoa mais importante do mundo. É um amor incondicional.

Com César Milan.
As pessoas podem ou não mudar de ideia?

Todos nós podemos e devemos. Aprender e mudar de opinião faz parte do nosso crescimento. Ainda bem! Parceiros Cãopetentes, como eu disse antes, fiz questão de contar essa história porque entendo até que pessoas não gostem de animais. Mas jamais vou compreender, aceitar ou justificar atos de quem os maltrata. E maus-tratos não inclui apenas bater e prender. Ignorar, abandonar, não respeitar suas necessidades físicas, não os prover de boa alimentação e cuidados com sua saúde, tudo isso pode ser enquadrado em maus-tratos. A visão das pessoas em relação aos animais pode estar muito relacionada a forma que foram educadas, ao local onde vivem, a oportunidade que tiveram ou não de conviverem com algum animal. Mas posturas e até mesmo treinamentos com métodos aversivos precisam acabar. Aqui mesmo no blog já publiquei, mais de uma vez, entrevistas com profissionais que utilizam técnicas de treinamento com reforço positivo que são absolutamente eficazes e dispensam qualquer outra maneira que gere dor ou medo no animal. Quanto aos maus-tratos é desnecessário dizer que as leis, antes mesmo de serem mais duras, precisam ser cumpridas. E todos podemos contribuir não sendo omissos. Denunciem!

Em um dos primeiros textos que publiquei aqui - Ter ou não ter animais de estimação -, contei para vocês que onde vivo atualmente, as pessoas ainda acham muito estranho a forma como eu trato o Zeus. Porque? Por que eu o considero como parte definitiva da minha vida, da minha família. Ele não fica fora da minha rotina e do meu dia a dia. Não é um cão de quintal, muito menos de guarda. Se eu quiser proteger minha casa, coloco concertina, cerca elétrica, alarmes e câmeras. Não fica e nunca ficará confinado em um canil, sem se socializar. O Zeus é minha companhia, meu trabalho, minha alegria. Um cachorro sim. Mas que exige de mim tempo, gastos, comprometimento, responsabilidade e muito amor.

Lembram quando a Márcia disse na entrevista que ainda morando no Brasil, muitos consideravam os cães apenas como animais de guarda? Então. Na cidade onde moro, a visão para muita gente não é distante disso. Infelizmente. Em outras culturas, os cães são absolutamente hostilizados. Lembram-se da história do Tapa? Os muçulmanos não suportam os cachorros. Se forem pretos então... Leiam como o Tapa, o labrador negro e mais viajado do mundo, passou por uns bons perrengues por aquelas terras... (http://www.caopetente.blogspot.com.br/2013/09/cachorro-maneiro-pessoas-maneiras-carro.html). Os chineses comem carne de cães. O que para nós é abominável, repugnante e inimaginável, para eles é natural. E a forma como isso é feito eu nem quero comentar...

Então, nosso papel é tentar mostrar um ponto de vista diferente a quem não pensa e age como nós. É educar os filhos desde novinhos para tratarem com respeito e cuidado a todos os animais. Ensinar que ter animais de estimação pressupõe responsabilidade, gastos e cuidados. Não percamos a oportunidade de passar essa mensagem e tentar sensibilizar mais pessoas sobre isso. Cada um com sua ferramenta, com sua maneira peculiar e dentro das suas possibilidades.

E para a próxima semana?

E por falar em saúde dos animais, há um bom tempo que não tratamos no blog sobre assuntos de saúde. Isso também faz parte da nossa rotina com os pets. A parte boa é que médicos veterinários tem se especializado cada vez mais e buscado por soluções para os variados problemas de saúde que podem acometer os bichinhos.

Quem já usou a acupuntura para tratar algum problema de saúde? E já ouviu falar que essa é uma alternativa muito eficaz para os nossos pets?

Esse é o próximo tema a ser tratado no Cãopetente. Vamos conversar com a médica Carolinne Torres, de São Paulo e conhecer um pouco mais sobre a acupuntura em animais. Não percam!

Até mais ver!



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